No dia 10 de março de 2013 membros da equipe "Trilhos do Rio" se reuniram para percorrer o atraente trecho da extinta Estrada de Ferro Rio d'Ouro, entre as estações de Cava e Tinguá, no município de Nova Iguaçu. Este trecho já foi denominado como Ramal de Iguaçu, mas foi notoriamente conhecido com o nome de Ramal de Tinguá. Possuía algumas estações e paradas intermediárias, e como quase todos os outros trechos da ferrovia, acompanhava de muito perto os canos da adutora que captava, e ainda capta, as águas dos mananciais das Serras nos limites da Baixada Fluminense, conduzindo o precioso liqüído a vários bairros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
O ponto inicial da nossa expedição, assim como é o ponto inicial de onde partia o ramal de Tinguá, foi a estação de Cava, localizada no bairro homônimo, mais conhecido por Vila de Cava.
Parte lateral da estação
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Ao chegarmos no local, tivemos a surpresa de constatar que a estação não está desocupada, ao contrário: havia várias pessoas, eletrodomésticos usados a venda, e até veículo estacionados no interior do prédio.
Muro com um desenho ferroviário e, curiosamente, um poste no meio da rua
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Este fato nos fez ficarmos apreensivos, ficamos sem saber se iríamos tentar contato com os moradores do local ou não. Como um dos membros da nossa equipe ainda estava a caminho, decidimos aguardar por ali mesmo. Até que um dos moradores, vestido com uma camisa de time de futebol, veio até nós e nos perguntou sobre nossas intenções. Explicamos e surpreendentemente nos convidou para ... conhecer toda a estação, desde a parte externa até o interior, por todos os cômodos !
A degradação da estação em diversos ângulos. Teto, e paredes destruídas, precariamente recuperadas
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
O morador muitíssimo simpático, chama-se sr.Nilo e é filho de um funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, que trabalhava no trecho. A sua mãe morava com ele e mais doze irmãos na estação, ajudando a mantê-la. Após a desativação da ferrovia, na década de 1960/1970, a Rede Ferroviária Federal cedeu o espaço para a sua família, segundo o que ele nos contou. Isso garantiria um teto para a numerosa família.
Parte da parede dos fundos já caiu. Nota-se um trilho utilizado na estrutura
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Mas infelizmente, nem tudo correu bem: com a falta de conservação, a estação foi se degradando. Parede já ruiram, telhas cairam e parte do telhado já não existe mais. Hoje moram cerca de cinco famílias na estação, com o espaço divido precariamente com lonas, lençóis ou anúncios publicitários. A situação é de calamidade e risco de vida. A estação e a família do sr.Nilo pedem socorro.
O INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural) providenciou o tombamento da estação em 1989, mas este tombamento foi provisório, não definitivo. Segundo o sr.Nilo, os demais órgaõs que poderiam providenciar algo de caráter mais contundente não o fizeram. Alguns representantes da RFFSA, há anos atrás, estiveram no local e prometeram uma restauração e entrega definitiva do imóvel à família, mas nunca mais voltaram
E o mais absurdo dos absurdos: funcionários da prefeitura de Nova Iguaçu estiveram no local e disseram que tem planos de demolir a estação ! O motivo: abrir espaço para a construção de um terminal rodoviário que, segundo eles, descongestionaria o tráfego na região, teoricamente saturada com a quantidade de veículos em determinados horários. Absurdamente absurdo ! ! !
Segundo o portal do INEPAC, que fez o tombamento provisório, a estação é uma "construção de dois pavimentos, em estilo missiones simplificado ou californiano,
em voga nos decênios de 1930 e 1940. Esta estação difere do estilo classicizante
das demais instalações do ramal. A bilheteria, em construção ao lado, tem
interessante marquise levemente projetada para fora da platibanda conforme o
gosto art déco."
Uma preciosidade que corre o risco de sumir, por total incompetência e visão predatória dos governantes.
Uma curiosidade: o banheiro da estação
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Janelas originais e a pitoresca arquitetura da estação
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Se alguém puder fazer alguma coisa a respeito, ou que possa nos indicar a quem procurar para que algo possa ser feito, entre em contato, deixando um comentário abaixo.
Piso original e na parede, o local onde ficava um banco de espera para os passageiros
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Não apenas pela preservação da estação e da história da ferrovia, da Baixada Fluminense e do Brasil; mas também pela família que a reside: todos correm risco de vida, com a estrutura da estação em iminente desabamento, como já ocorreu em algumas partes.
Aproveito para agradecer a todos os membros da equipe "Trilhos do Rio" que estiveram me acompanhando nesta inesquecível expedição (serão divulgados maiores detalhes posteriormente), e também devo meus sinceros agradecimentos ao sr.Nilo e família, que nos recebeu muito gentilmente e calorosamente, compartilhando informações preciosíssimas, através de imagens e um depoimento emocionante gravado em vídeo, que será divulgado em breve.
E vamos lutar com toda força pela recuperação e conservação de Cava ! ! !