Algumas vezes pensamos que estamos sendo perseguidos, vigiados, monitorados ... quem nunca teve essa impressão ?
Com
câmeras espalhadas nas grandes cidades, registros e documentos dos
cidadãos sendo controlados, dados pessoais circulando e sendo até
negociados entre empresas na internet, não tem como não pensar que a
privacidade, a intimidade e a rotina das pessoas está à mostra de todos.
Aliás,
com a internet, ferramenta que permite a comunicação e a informação
circulando rapidamente através do mundo, a vida privada das pessoas
passou a ser algo de dificil reserva. E isso se aplica também a nós,
preservacionistas e pesquisadores ferroviários. Parece paranóico, mas
explicarei que algo pode estar fazendo todo o sentido. Sim: podemos
estar sendo monitorados e tendo nossos interesses sabotados ...
1-Trilhos da EF Rio d'Ouro, linha original,
que partia da Quinta do Caju, seguia paralela à Av.Suburbana de Bemfica
(com "m" mesmo) até Pilares e depois pela Avenida Automóvel Clube em
direção à Baixada Fluminense.
Trilhos na Av.Dom Hélder Câmara, próximo à Maria da Graça
Fotos: Julio C.Silva
Fotos: Julio C.Silva
Após
as notícias da aparição destes trilhos na pracinha, como se fossem
mortos mal enterrados retornando ao mundo dos vivos, começamos a visitar
o local para pesquisa, registros e confirmações, e começamos a bolar
algum projeto para o local, um dos últimos trechos da EF Rio d'Ouro
ainda com trilhos dentro da cidade do Rio de Janeiro. Mas foi só
começarmos a debater e divulgar nossas intenções para ... os trilhos
serem removidos e o local desfigurado ! Segundo dizem, alguns dos
moradores de rua que frequentavam o local, teriam retirado os trilhos
(!!!) para vender o metal (!!!) e, para com o dinheiro arrecadado,
comprar drogas para consumo próprio (!!!).
Sinceramente,
é algo que não dá pra entender e acreditar. Mesmo que tenham sido estas
pessoas, alguém com mais influência estaria por trás dessa ação.
2-Estação Henrique Scheid* (olha a EF Rio d'Ouro aí de novo !)
Durante
pesquisas sobre a linha original da EF Rio d'Ouro, nos deparamos com um
mapa misterioso, publicado no Guia Briguiet (em 1910 e 1913) onde estão
assinaladas tudo quanto era estação e parada ferroviária. Inclusive
poderíamos questionar estes mapas, em relação à sua veracidade, mas isso
não vem ao caso agora. Continuando, neste documento estão assinaladas
as paradas ferroviárias Henrique Scheid e José dos Reis (veja mais
abaixo). Henrique Scheid se localizava aproximadamente na esquina da
Avenida Dom Helder Câmara com a Rua Ibiraci, um terreno baldio. Entretanto, pouco tempo após nossas pesquisas indicarem o local como sendo de uma antiga parada ferroviária, o terreno foi ocupado e atualmente funciona uma empresa de venda de piscinas, APÓS DÉCADAS E DÉCADAS o terreno estando sem uso e abandonado ! Coincidência ?
O terreno baldio em imagens do Google Earth (2012), e a última feita pelo nosso pesquisador Melekh
Acima, imagem do Google Maps em Agosto de 2015
*A
Estação Henrique Scheid ainda não teve a sua existência confirmada.
Apesar de conhecermos documentos que citam a sua existência e aproximada
localização, ela ainda não foi de fato confirmada como tendo existido
de fato (poderia ser outro nome de uma outra estação, erro de grafia ou
identificação, etc)
3-Estação José dos Reis (EF Rio d'Ouro novamente ?)
Assim
como a estação Henrique Scheid, acima, esta parece também ter sido
dizimada assim que foi citada por nós na internet. Mas aí há uma dúvida:
quando começamos a pesquisar sobre o assunto, a localização indicava
uma casinha antiga, em um terreno relativamente amplo, como sendo a
antiga estação. Outra coisa que indicava isso era uma plaquinha de
patrimônio da RFFSA em uma das paredes do prédio. Nosso pesquisador
Melekh conversou com um dos moradores, e este confirmou que o prédio
teve uso ferroviário. Entretanto, com as pesquisas evoluindo, imagens
antigas indicavam que a estação José dos Reis teria sido outro prédio,
demolido provavelmente com a urbanização do entorno da Avenida
Suburbana. Vejam abaixo:
Mapa antigo indicando a posição da estação
Edição: Carlos Alberto Ramos (Melekh)
Revista de Engenharia (1886)
Foto: Melekh
O
fato é que após mais pesquisas e investigações, encontramos imagens que
poderiam mostrar o real prédio da estação de José dos Reis, uma casinha
possivelmente alugada ou cedida para a ferrovia, fato comum na época.
As setas indicam a possível casa onde funcionava a estação José dos Reis
Fonte: AGCRJ via Adenilson M.de Souza
Fonte: AGCRJ via Adenilson M.de Souza
O
fato é que a casinha identificada como patrimônio da RFFSA, sendo ou
não a estação de José dos Reis, no mínimo pertenceu ou fez parte de
alguma estrutura ou instituição ferroviária no local. Algum tempo depois
que iniciamos as nossas pesquisas, o imóvel foi vendido (?) e funciona
atualmente uma instituição de ensino de línguas.
4-Estação de (Vila de) Cava (Ah, já sei ! Também da EF Rio d'Ouro, adivinhei ?)
A
estação de Cava era um importante entroncamento, onde iniciava o ramal
de Tinguá, da EF Rio d'Ouro. Na verdade, os trens que se dirigiam a este
ramal partiam de Belford Roxo e seguiam pela mesma linha dos trens do
ramal de São Pedro (Jaceruba) até este ponto, onde entravam na linha à
direita. Durante uma expedição de reconhecimento e pesquisa do ramal de
Tinguá (desativado desde o fim da década de 1960), conhecemos a estação,
em raro estilo Missionês simplificado ou Californiano, de acordo com o
INEPAC, que tombou o prédio e outras construções adjacentes da estação. O
problema é que a estação estava e ainda está em estado deplorável.
Descendentes dos ferroviários que trabalhavam na estação moram em perigo
constante, com o risco da estação desabar a qualquer momento. Aliás,
algumas paredes já estavam ruindo na ocasião.
Imagens feitas durante a nossa primeira visita, em 2013.
Fotos: Eduardo P.Moreira
Após
a nossa caminhada, onde vimos até despojos da ferrovia como dormentes e
antigos pinos de fixação, comunicamos a diversos órgãos de preservação
histórica o estado calamitoso em que encontrava-se a estação. Muito
barulho foi feito, processos foram iniciados, matérias de jornal foram
publicadas e ... nada aconteceu. Opa, eu disse "nada" ?
Janeiro de 2014, imagem do Google Maps.
Fui
alertado por internautas que ... uma árvore havia caído sobre a
estação, em imagens de Janeiro de 2014. Ficamos apreensivos, por
diversos motivos ! A estação ainda estaria de pé ? Haveria feridos ?
Quais as consequências ? Além disso, outra coisa, que direi ao final do
parágrafo, nos intrigava. Mas nos apressamos em visitar o local, onde
constatamos que não houve perdas pessoais, apenas materiais e de tempo,
pois a estação encontrava-se pior que nunca, e nada havia sido feito
para evitar. Agora o que nos intrigou mesmo foi ... tanto lugar e
direção pra árvore cair e ela cai exatamente sobre a estação ??? E
justamente quando não havia ninguém "em casa", certinho, na hora que não
havia testemunhas ? Hum ...
Mais detalhes no link aqui do blog:
5-EF Melhoramentos/Linha Auxiliar
Em
2013 fizemos uma das caminhadas mais marcantes que já promovemos: o
trecho de serra da ferrovia entre Miguel Pereira e Arcádia. Belíssimas
paisagens, ar puríssimo, clima agradável, trilhos ... enfim, um cenário
perfeito para uma ferrovia ser reativada, com fins turísticos no mínimo.
Seria um sucesso perfeito. Divulgamos os dados coletados durante a
expedição, apresentamos propostas e projetos e, como não havíamos
concluído o trecho (devido ao horário avançado saímos do leito
ferroviário, no meio da mata fechada, e concluímos o trecho por uma
estrada de terra) decidimos voltar para concluir. Em outubro de 2015
retornamos e ... constatamos uma série de atrocidades, como dano ao
patrimônio ferroviário, histórico, e ecológico, dentre outros crimes.
Recentemente publicamos um dossiê completo sobre isso:
http://trilhosdorio.blogspot.com.br/2015/11/a-agonizante-linha-auxiliar.html
http://trilhosdorio.blogspot.com.br/2015/11/a-agonizante-linha-auxiliar.html
Concidência ? Paranóia ? Complô ?